Netos de Luiz Gonzaga divulgam ‘nota de nojo’ por uso de música do compositor em live de Bolsonaro

Música ‘Riacho do Navio’ foi tocada pelo presidente da Embratur, que alterou versos para fazer referência a trecho da transposição do São Francisco inaugurado por Bolsonaro.

Netos do cantor e compositor Luiz Gonzaga divulgaram uma “nota de nojo” na qual repudiaram o uso de uma música do avô em live do presidente Jair Bolsonaro na quinta-feira (2).

Procurada pela TV Globo, a assessoria do Palácio do Planalto disse que não vai comentar a nota dos familiares do cantor.

A música é “Riacho do Navio”. Assina a composição, além de Luiz Gonzaga, Zé Dantas. Na abertura da live, a música foi tocada na sanfona e cantada pelo presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Gilson Dantas. Ele alterou alguns versos da letra original para fazer referência ao fato de Bolsonaro ter inaugurado um trecho da transposição do rio São Francisco, no Ceará.

Os netos de Luiz Gonzaga que redigiram a nota são filhos do também músico Luiz Gonzaga do Nascimento Jr., o Gonzaguinha.

“Diante da impotência e da impossibilidade de processo por propaganda indevida, por dupla apropriação, da canção de Luiz Gonzaga e Zé Dantas e do projeto do Rio São Francisco; nós, filhos de Luiz Gonzaga do Nascimento Jr, netos de Luiz Gonzaga, o Gonzagão, apresentamos uma NOTA DE NOJO diante deste governo mortal e suas lives”, escreveram Amora Pêra Gonzaga do Nascimento, Nanan Gonzaga, Daniel Gonzaga.

Bolsonaro apresentou uma live na quinta-feira (2), ao lado do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães (à esquerda), e do ministro do Desenvolvimento Regional (Rogério Marinho), à direita. Ao fundo, o presidente da Embratur tocou e cantou a música 'Riacho do Navio', com alterações da letra — Foto: Reprodução

Bolsonaro apresentou uma live na quinta-feira (2), ao lado do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães (à esquerda), e do ministro do Desenvolvimento Regional (Rogério Marinho), à direita. Ao fundo, o presidente da Embratur tocou e cantou a música ‘Riacho do Navio’, com alterações da letra — Foto: Reprodução

Procurada, a assessoria de comunicação da Presidência da República ainda não havia se manifestado sobre a nota até a última atualização desta reportagem.

Os netos de Luiz Gonzaga também afirmaram que não autorizam o uso de música do avô pelo governo federal.

“Não estamos de acordo com o uso da canção Riacho do Navio, nem sua alteração, nem sua execução (com duplo sentido) pelo Senhor Gilson Machado Neto, presidente da Embratur, em transmissão ao vivo pelo Senhor Presidente.E, AINDA QUE SIMBOLICAMENTE, não autorizamos ao Governo Federal o uso das canções assinadas por nenhum de nossos familiares, ou, ao menos, das respectivas partes que nos cabem”, disse outro trecho da nota.

O texto também traz críticas ao governo Bolsonaro. “Governo que faz todos os gestos ao seu alcance para confundir e colocar em risco a população do Brasil, enquanto protege a si mesmo e aos seus”, afirmam os netos de Luiz Gonzaga.

Veja a íntegra da nota:

NOTA DE NOJO

Diante da impotência e da impossibilidade de processo por propaganda indevida, por dupla apropriação, da canção de Luiz Gonzaga e Zé Dantas e do projeto do Rio São Francisco; nós, filhos de Luiz Gonzaga do Nascimento Jr, netos de Luiz Gonzaga, o Gonzagão, apresentamos uma NOTA DE NOJO diante deste governo mortal e suas lives.

Governo que faz todos os gestos ao seu alcance para confundir e colocar em risco a população do Brasil, enquanto protege a si mesmo e aos seus.

Não estamos de acordo com o uso da canção Riacho do Navio, nem sua alteração, nem sua execução (com duplo sentido) pelo Senhor Gilson Machado Neto, presidente da Embratur, em transmissão ao vivo pelo Senhor Presidente.

E, AINDA QUE SIMBOLICAMENTE, não autorizamos ao Governo Federal o uso das canções assinadas por nenhum de nossos familiares, ou, ao menos, das respectivas partes que nos cabem.

Sonhamos com o dia em que nosso país volte a ser e a ter respeito e honestidade em relação à sua história, suas injustiças e desequilíbrios.

Sonhamos o dia em que se volte a reconhecer, dentro do país, a importância da Cultura, das artes Brasileiras, e seu imenso legado por gerações, assim como o é em todo o mundo.

Sonhamos com o dia em que a informação e o conhecimento sejam distribuídos democraticamente à todes, para, apenas recomeçar, sanarmos essa doença que não faz distinção, além da social, como costuma ser na nossa violenta história. E depois, para que o poder e o espaço, em toda instância, possa ser equalizado e distribuído.

Sonhamos dias sem mortos pela violência do Estado, seja ela direta ou indireta.

Finalmente; sonhamos com quando poderemos dançar e cantar abraçados, sem medo, nos bailes de forró e nas tantas festas as quais o Brasil faz e das quais é feito.

Trabalhamos todos os dias por realizar estes sonhos, que não são apenas por nós, mas por todas as gentes deste país.

Por hora, trabalhamos em casa, cumprindo as indicações internacionais da Organização Mundial de Saúde e pedimos que, todos que possam, também o façam.

03/07/2020

Amora Pêra Gonzaga do Nascimento

Nanan Gonzaga

Daniel Gonzaga

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