BA: Jovem cria a partir do látex da mangabeira substância para cicatrizar feridas em diabéticos

Projetos científicos e inovadores surgem a partir de problemáticas que a nossa sociedade vive e precisam ser resolvidas. Quando o problema está dentro de casa, a situação e a sede de solucionar determinada questão é ainda maior. Foi o que aconteceu com o aluno João Pedro de Oliveira, do ensino médio técnico no Instituto Federal Baiano da cidade de Catu, região metropolitana de Salvador. João tinha uma avó que, por problemas causados pela doença da diabetes, desencadeou uma série de úlceras cutâneas nas pernas, um tipo de ferida que causa uma lesão na pele e perde as camadas superficiais.

Ao ver o sofrimento dela, o estudante buscou uma forma de ajudar no tratamento das feridas. “Em uma conversa com colegas da região da cidade de Crisópolis, no nordeste da Bahia, observei que as pessoas da região usavam o látex da planta do pé da mangaba para o tratamento de problemas estomacais. Esse processo necessitava da realização de cortes do caule da planta. Percebi que assim que fazia o corte, logo a planta estancava o látex e meio que ‘cicatrizava’ o caule. Foi aí que formulei a hipótese: será que o látex de mangaba pode ser usado para auxiliar na cicatrização de ferimentos e ajudar a minha avó a ser curada destas enfermidades?”, conta João.

Após alguns estudos, o estudante criou o “Cicatribio”, um projeto que trata ferimentos cutâneos, principalmente causados por leishmaniose e diabetes. “Usamos o látex da mangaba, que é uma planta típica da região Nordeste, para a produção de formulações farmacêuticas que tratem esses ferimentos”, explicou. Segundo João, o projeto está em fase de análise para o registro da patente pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

O mercado já utiliza o látex da seringueira, porém a substância apresenta algumas proteínas que são tóxicas e causam efeitos colaterais e irritações na pele. “Baseado nessa vertente, buscamos formular estudos com foco no látex da mangaba, que tem demonstrado formulações eficazes na cicatrização de ferimentos e sem causar efeitos colaterais”, explicou o orientador e professor Saulo Capim. De acordo com ele, o custo de produção do produto é baixo, o que faz com que possa ser futuramente utilizado no serviço público de saúde.

Saulo destacou que para colocar um produto desta magnitude no mercado é necessário testes e fases para a comprovação da sua aprovação. “Estamos na fase II (testes em camundongos). Os resultados na fase I (in vitro) foram surpreendentes e as formulações conseguiram desempenhar um ótimo resultado sem causar toxicidade às células sadias, o que credenciou a tomada e início dos testes da fase II com bastante entusiasmo. Estes resultados foram de fundamental importância para darmos entrada em um pedido de patente junto ao INPI”, contou o professor, destacando que o projeto também conta com a participação de professores e estudantes da área de análise e desenvolvimento de sistemas do IFBaiano que desenvolvem um aplicativo para acompanhamentos dos ferimentos e evolução da cicatrização, além da professora Jane Lima, da Uesc, que auxilia no desenvolvimento dos testes biológicos.

O projeto ganhou, recentemente, um edital do Ministério da Educação (MEC), Empreendedor Inovador, que irá proporcionar uma ajuda financeira aos estudantes de 200 mil reais para a conclusão da pesquisa, testes e comercialização do produto. “Quando chegarmos ao fim das fases e estivermos com os produtos formulados e disponíveis no mercado, poderemos auxiliar a população com uma problemática que atinge milhares de pessoas no mundo todo. Os ferimentos difíceis de cicatrizar causam enormes transtornos para a sociedade. São gastos milhões de reais anualmente no SUS para tratar pessoas com ferimentos graves e difíceis de cicatrizar. Este projeto tem o intuito de auxiliar as pessoas e os profissionais de saúde que lidam com esta temática constantemente”, concluiu o professor.

noticia10/secomBA

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